O desafio que se me apresenta é tratar de um assunto cuja magnitude coincide com a do ser humano, em tão curto espaço. Mas antes de qualquer consideração, é bom que se evidencie que frequentemente, utilizamos a palavra “liderança”, que é um processo, com o mesmo significado da palavra líder, que é o protagonista desse processo. Tenho encontrado diferentes conceitos que nos levam à compreensão desse fenômeno.
O que mais me agrada, e por sinal o mais simples, assim se expressa: “liderança é um processo de influência eficaz”.
Parece-me que nessa conceituação encontram-se todos os ingredientes, que tenho assistido nesse fenômeno durante a minha vida, e tenho encontrado nas pesquisas que tenho feito.
Em seu livro O Desafio da Liderança, James M. Kouzes e Barry Z. Posner, conceituam-na como sendo: “Liderança é a arte de mobilizar as pessoas para que elas queiram lutar por aspirações compartilhadas”. Tenho grande apreço por essa conceituação, pois nela encontro conteúdos de autenticidade, nem sempre encontráveis em outros conceitos que primam pela manipulação. Este conceito de liderança fundamenta-se em alguns elementos:
A liderança encontra-se centrada na aceitação pelos liderados, e de forma voluntária.
O papel do líder localiza-se em um processo de mobilização de vontades.
Expressa os desafios propostos por aspirações a serem compartilhadas.
Nestes elementos, contidos em sua conceituação, podem-se inferir algumas crenças que contrariam a prática da liderança por muitas pessoas que ocupam o cargo de comando. Como por exemplo, a crença de que há uma enorme diferença entre:
Arregimentar apoio e dar ordens.
Conquistar compromisso e impor obediência.
Por mais que tais crenças pareçam óbvias, na prática, os gestores contemporâneos, com muita frequência, ainda parecem acreditar que só produz efeito a arte de dar ordens e de impor obediência. Eles desconhecem novas tecnologias de liderança. Tais condutas encontram-se ultrapassadas, porém não conseguem sair do cotidiano, pois vivemos numa geração herdeira de uma educação autoritária e de uma gestão autocrática. É necessária muita determinação para que haja uma conversão de crenças obsoletas, para outras contemporâneas e eficazes.
O fato é que não se consegue fidelidade, lealdade e reciprocidade pela imposição de obediência ou pelo comando de ordens. Com muita frequência isso significa exibição de poder, promoção do medo e da insegurança. Os resultados a serem obtidos por tais métodos frequentemente ocorrem apenas na presença da autoridade impositiva, e cuja ressonância não tem perenidade.
Os demais conceitos que foram surgindo, de alguma forma se repetem. No entanto, alguns se concentram nas características da pessoa que protagoniza a liderança, e outros nas circunstâncias e situações em que líderes surgirão, a partir das características das pessoas ou grupos, a serem por ele liderados. Fato é que faço a opção por visualizar sistemicamente o fenômeno da liderança, considerando múltiplos fatores. Pretendo não desperdiçar variáveis relevantes, em sua compreensão.
Porém, neste momento, exercitando a tendência de centrar o processo da liderança nos seguidores ou no grupo de seguidores, por vezes radicalizo-me em minhas reflexões: chego a pensar de que o líder seja apenas um produto grupal, não raramente um excremento grupal, para ser mais contundente. Ou seja, o grupo ou a sociedade produz o líder que representa seus anseios, seus sonhos e necessidades, de forma duradoura ou temporariamente. Se examinarmos cuidadosamente, personalidades do passado, e nos perguntarmos: prevaleceram as características do líder ou as imperiosas necessidades e os poderosos desejos do grupo em que se encontravam inseridos?
Apenas para efeito de ilustração pode-se lembrar de algumas personalidades cuja liderança é inconteste. Assim o digo pelas pesquisas que tenho realizado, em programas de capacitação em liderança:
Mahatma Gandhi: foram suas características pessoais ou as circunstâncias de espaço e tempo que o fizeram surgir, a partir das imperiosas necessidades de contexto.
Nelson Mandela: foi o seu perfil pessoal ou a conjuntura racial na África do Sul, que se impôs e foi à procura de quem pudesse preencher as necessidades do momento, de mediação.
Juscelino Kubistchek: foram suas características pessoais ou o contexto, pós-ditadura Vargas, que se abriu à procura de um perfil, que melhor se acomodasse numa sucessão democrática.
Outros tantos existiram que preencheram as características da admiração e da aceitação geral: João Paulo II, Ayrton Sena, Madre Tereza de Calcutá, e outros incontáveis que a história registra.
Conforme já disse, pretendo fazer uma opção sistêmica, considerando o encontro oportuno e favorável das duas variáveis: o perfil do líder e a situação que o demandou e acolheu.
Agora só nos resta uma reflexão: que características tenho eu que me possibilitaria contribuir para a minha organização, ou para a minha sociedade?
Creio que, para responder a essa questão, devo me sintonizar com uma outra: quais necessidades tem a minha organização ou a minha sociedade, que demandam de mim uma missão especial?
Fato é que não nos escapam muitas escolhas: ser um líder ou um liderado. Ter uma estratégia ou fazer parte da estratégia de outrem. Eis a questão.
Texto elaborado por Inocêncio Magela de Oliveira para a Revista Conceito em 19/07/2012. Inocêncio é consultor organizacional e facilitador em programas de capacitação em liderança.
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